Cobrança ou proibição de sacolas plásticas poderia reduzir o uso em até 80% na Europa

Novas propostas da UE (União Europeia) exigiriam que estados-membros optassem entre três métodos para reduzir os resíduos das sacolas

© Shutterstock.com

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Fiona Harvey, correspondente ambiental
The Guardian
4 de novembro de 2013, 15:04
Traduzido por Mariana Coutinho Hennemann, Global Garbage Brasil

Os estados-membros da União Europeia poderiam reduzir até 80% do seu uso de sacolas plásticas, disse a Comissão Europeia, através da cobrança pelas sacolas ou até sua proibição.

As sacolas plásticas são uma das principais causas de poluição marinha, a qual é uma séria ameaça à vida marinha, e algumas regiões já se mobilizaram no sentido de reduzir seu uso através de cobranças. O primeiro ministro do Reino Unido, Nick Clegg, comprometeu-se a apresentar cobranças na Inglaterra que irão afetar o uso das sacolas de uso único fornecidas nos supermercados.

O uso de sacolas plásticas foi drasticamente reduzido na República da Irlanda depois que as cobranças foram introduzidas. Uma cobrança similar foi recentemente colocada em prática na Irlanda do Norte, e os supermercados no País de Gales reportaram uma queda no uso de até 96% depois que um esquema de cobrança foi iniciado há dois anos. A Escócia está iniciando uma cobrança de 5p (5 centavos de libra) no próximo ano.

Comissão Europeia está propondo uma nova diretiva, que exigiria que os estados-membros optassem entre três métodos para reduzir os resíduos das sacolas: cobranças, metas de redução nacional ou proibição total.

Janez Potočnik, comissário ambiental para a UE, disse: “Nós estamos agindo para resolver um problema ambiental muito sério e altamente visível. Todos os anos, mais de 8 bilhões de sacolas plásticas vão para o lixo na Europa, causando enormes danos ambientais. Alguns estados-membros já alcançaram grandes resultados com a redução do uso de sacolas plásticas. Se os outros seguirem o exemplo, poderíamos reduzir o consumo geral atual na UE em até 80%”.

Metas de redução são vistas como uma medida relativamente fraca. No Reino Unido, grandes varejistas comprometeram-se a reduzir o uso de sacolas em alguns anos, mas o uso continua alto, com aproximadamente 8 bilhões distribuídas anualmente. A UE estima que cada cidadão utilize por volta de 500 sacolas plásticas por ano.

A indústria de embalagens respondeu dizendo que a maioria das pessoas utiliza suas sacolas plásticas mais de uma vez, por exemplo, como sacos de lixo, mas isso não reduz o uso geral.

Críticos dizem que as propostas da Comissão Europeia não foram longe o suficiente e deram aos estados-membros muita liberdade, permitindo que eles determinem suas próprias metas, ao invés de objetivos com abrangência em toda a UE ou medidas claras que poderiam reduzir o uso das sacolas.

Margrete Auken, Membro Verde do Parlamento Europeu (Green MEP) da Dinamarca, disse: “Enquanto uma abordagem europeia para reduzir o uso de plásticos está há muito atrasada, a Comissão está em cima do muro com as propostas atuais. O fracasso em estabelecer metas claras para reduzir as sacolas plásticas leves irá prejudicar claramente a perspectiva de garantir uma redução em toda a UE. Ao invés disso, a Comissão está deixando aberto para os estados-membros para decidirem como e em que medida eles irão reduzir o uso de sacolas plásticas”.

Quando sacolas plásticas, ou pedaços delas, chegam aos mares, representam um grande perigo à vida marinha. Uma baleia encontrada morta na costa sul da Espanha havia ingerido 17 Kg de resíduos plásticos, incluindo sacolas plásticas. Peixes, aves e mamíferos marinhos podem todos ingerir plásticos, os quais não conseguem digerir e podem obstruir seus intestinos ou causar asfixia.

A UE estima que há 500 toneladas de pequenos fragmentos plásticos, contabilizando até 250 bilhões de partículas individuais, flutuando apenas no Mediterrâneo. No Pacífico, uma grande área, estimada em milhões de quilômetros de diâmetro, é atualmente ocupada por uma “mancha de lixo” flutuante gigante formada por pequenas partículas de resíduos plásticos.

Um dos principais problemas relacionados às sacolas plásticas é que elas são tão leves e pequenas, que podem facilmente “escapar” para o ambiente, desafiando as tentativas de reciclá-las. A Comissão Europeia identificou esta como sendo a principal razão para a redução do uso de sacolas e outras embalagens plásticas. As primeiras movimentações para regulamentar isso em nível de UE foram feitas em 2011, e o anúncio de hoje pode levar pelo menos dois anos para ser colocado em prática.

De acordo com as estimativas mais recentes, desde 2008, a EU produz 3,4 milhões de toneladas de sacolas plásticas por ano.

Vamos proteger nossos mares do lixo marinho

© Paula Giolito

© Paula Giolito

Maria Damanaki’s blog – European Commission
28 de agosto de 2013
Traduzido por Mariana Coutinho Hennemann, Global Garbage Brasil

Toneladas de lixo estão sendo despejadas em nossos oceanos, mares e rios todos os anos. Resultando tanto do descarte industrial ou do comportamento humano, o lixo ameaça a vida selvagem, bem como nossa saúde e nossa economia. Você sabia que o plástico, que representa por volta de 80% do lixo marinho, nunca é biodegradado, mas, ao invés disso, é fragmentado em pequenos pedaços, devido à fotodegradação? Nós encontramos tais pedaços de microplásticos em estômagos de aves marinhas e peixes, e eles acabam chegando aos nossos pratos também!

Uma legislação europeia para reduzir o lixo marinho está em vigência. Mas a Comissão também lançou diversas iniciativas para apoiar ações para coletar e reciclar o lixo marinho que já polui os nossos mares.

Dentre essas iniciativas, o MARELITT é um projeto piloto de dois anos da Comissão que apoia ações de remoção de lixo marinho das quatro bacias regionais da Europa. Associações que tenham interesse por projetos de remoção de lixo marinho ainda podem se envolver, pois o projeto estará em andamento até Dezembro de 2014.

Adicionalmente, a chamada para propostas para a ação preparatória “Guardians of the Sea” (Guardiões do Mar) para 2013 foi recém-lançada. Essa ação tem como objetivo promover uma re-orientação de pescadores que estejam trabalhando a bordo de embarcações que tenham sido redirecionadas para outras atividades, de forma a preservar empregos e promover objetivos de crescimento “Azuis” (Blue growth objectives). Portanto, um exemplo de co-financiamento desse projeto poderia ser o desenvolvimento de soluções técnicas e a criação de coleções de lixo marinho pelos pescadores redirecionados. Nós somos todos responsáveis pela saúde de nossos mares, mas quem melhor do que os próprios pescadores para serem os “Guardiões dos nossos mares”?

Lançamento do primeiro estudo europeu sobre lixo marinho

© Global Garbage Brasil

© Global Garbage Brasil

Uma equipa de cientistas está a lançar um estudo a nível europeu que pretende disponibilizar as primeiras informações detalhadas sobre a perceção da população sobre o lixo marinho.

Este estudo, que está a ser conduzido pela Universidade de Plymouth, irá avaliar como as atitudes da população, relativamente aos impactes e possíveis soluções para este problema ambiental em crescimento, variam entre países e entre os que fabricam, vendem, utilizam ou eliminam os vários itens que se podem tornar lixo marinho.

Este estudo está a ser liderado pelo professor Richard Thompson, do Centro de Investigação de Biologia Marinha e Ecologia, e pela Dr.ª Sabine Pahl e Bonny Hartley da Faculdade de Psicologia da mesma Universidade. A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa é responsável pela sua implementação em Portugal.

“Sabemos que o lixo marinho afeta uma grande variedade de vida marinha incluindo espécies comerciais importantes, muitas das quais bastante ameaçadas. Este lixo apresenta uma ameaça para os marinheiros e a sua remoção é excecionalmente cara. Contudo muitos dos itens que normalmente encontramos como lixo marinho, como embalagens, não têm nenhum motivo para se acumularem no mar. Este estudo fornece uma oportunidade única para ajudar a compreender as causas subjacentes e identificar potenciais soluções para este grande problema ambiental”, refere o professor Thompson.

Lixo marinho é qualquer material duradouro, fabricado ou processado que é descartado, eliminado ou abandonado na costa ou no mar.

Para este estudo, serão realizados inquéritos para se conhecer a opinião das pessoas sobre lixo marinho, por exemplo, que tipos de lixo se encontram no mar, de onde vêm e que consequências têm.

Segundo Bonny Hartley, “o lixo marinho é um problema social no qual as pessoas desempenham um papel fundamental através das suas decisões e comportamentos. Afeta os visitantes das praias, é causado pelo comportamento dos consumidores, retalhistas e vários outros stakeholders (partes interessadas) e só poderá ser resolvido se as pessoas trabalharem juntas. Compreender as atitudes atuais em toda a Europa e perceções do problema é um passo crucial para desenvolver soluções viáveis e aceites pela sociedade.”

Este estudo irá comparar as opiniões de pessoas de 16 países das regiões do Atlântico Nordeste, Mediterrâneo, Báltico e Mar Negro. Terá como alvo diferentes sectores da sociedade, incluindo os que desenvolvem atividades comerciais e de recreio na costa e no mar, organizações e grupos ambientalistas, professores e outros formadores, governos e decisores políticos, comunicação social, entidades do sector de gestão de resíduos, bem como os que desenvolvem, produzem e comercializam itens que podem dar origem a lixo marinho.

Faz parte do projeto MARLISCO, projeto de três anos financiado pela Comissão Europeia, que visa aumentar a consciência social relativamente aos problemas e possíveis soluções relacionados com o lixo marinho, de forma a inspirar mudanças nas atitudes e comportamentos da população relativamente a este problema ambiental.

O inquérito leva cerca de 15 minutos a responder e a informação que disponibiliza é anónima e confidencial. Para participar visite www.psy.plymouth.ac.uk/MARLISCO.