Sobre lixo marinho e a Irlanda

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Falando sobre o lixo marinho ingerido por aves marinhas com a repórter Mariane Salerno

por Heidi Acampora, da ABLM – Associação Brasileira do Lixo Marinho

02 de Fevereiro de 2015

Recentemente tive a oportunidade de dar uma entrevista no programa na TV Globo “Como será?” e falar um pouco da pesquisa sobre lixo marinho no meu doutorado, e a vida na Irlanda. O programa foi ao ar no dia 31 de Janeiro e está disponível online.

Confira o video no link Irlanda: Rota de Estudantes

 

Tartaruga é tratada após ingerir lixo e devolvida ao mar em Sergipe

Animal voltou à natureza após quatro meses e 25 dias de tratamento.
Bicho é conhecida popularmente como Tartaruga Verde.

Greenpeace ©, Carè ©/Marine Photobank

Greenpeace ©, Carè ©/Marine Photobank

Do G1 SE
14/11/2014 17h00 – Atualizado em 14/11/2014 18h18

Uma Chelonia mydas, conhecida popularmente como Tartaruga Verde, foi devolvida ao mar na tarde desta quinta-feira (13), na praia de Atalaia, em Aracaju.

O animal voltou à natureza após quatro meses e 25 dias de tratamento de reabilitação feito pela equipe da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA). De acordo com o médico veterinário Fábio Teles, foi detectado que a tartaruga marinha ingeriu lixo, apresentando uma estrutura corporal magra.

“Ficou detectado, em seu histórico clínico, a ingestão de resíduos sólidos antropogênicos, o que afetou no trato gastrointestinal da paciente. Ela não se alimentava sozinha e também não afundava quando nadava”, explica Fábio.

Atualmente, o centro de reabilitação de tartarugas marinhas da FMA possui 11 pacientes em tratamento. Segundo o médico veterinário, na maioria dos casos de encalhe que foram registrados, há presença do lixo no organismo dos animais.

Para o professor paulista José Francisco Machado, ter podido acompanhar a situação no mar de Aracaju foi interessante. “Ver uma equipe que trabalhou para a reabilitação da tartaruga marinha devolvê-la recuperada ao habitat chega a ser emocionante”, revela.

FMA
Criada em 1989, a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem como missão promover a conservação dos mamíferos aquáticos e de seus habitats, visando o equilíbrio ambiental. Com atuação nacional, a FMA chega aos 25 anos consolidada como importante instituição de pesquisa, defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável.

Workshop Anual de Fulmares

Jan van Franeker demonstra uma necropsia inicial  – ©Heidi Acampora

Jan van Franeker demonstra uma necropsia inicial – ©Heidi Acampora

por Heidi Acampora, da ABLM – Associação Brasileira do Lixo Marinho
26 de outubro de 2014

Entre 17-22 de Outubro, aconteu o workshop anual para o estudo de fulmares, na ilha de Texel, na Holanda. O workshop de fulmares é apresentado por Jan Andries van Franeker, que começa explicando sobre o monitoramento de lixo marinho por fulmares no Mar do Norte, e logo depois realiza uma necrópsia inicial para ensinar sobre a metologia padrão utilizada para os trabalhos da OSPAR (Convenção Oslo-Paris). A partir daí, os participantes se colocam em pares para realizarem suas próprias necrópsias nas aves providenciadas para o workshop, durante todo o fim de semana. Definitivamente uma oportunidade incrível para afiar suas técnicas e aprender novas. A padronização de técnicas e metodologias é uma importante característica da pesquisa, pois permite que dados de diferentes estudos possam ser comparados e validados então.

Nos próximos dias que seguiram, os participantes do workshop, deram apresentações sobre seus trabalhos atuais e nos também tivemos a oportunidade de sair para uma observação de aves no campo. O tempo estava um pouco ruim, mas com sorte tivemos alguns momentos quando a chuva deu uma trégua e pudemos correr para fora da van e passar algum tempo observando as aves (algumas interessantes para os livrinhos de algumas pessoas :)).

Eu aproveitei a oportunidade do workshop para levar algumas das minhas aves aqui da Irlanda, incluindo um fulmar que encontrei em Dog’s Bay, Connemara, no início do ano, e realizar as necrópsias com o Jan. Eu também fiquei alguns dias a mais após o workshop para estudar melhor as técnicas de análise de conteúdos estomacais e assim, analisar também o conteúdo estomacal do meu fulmar irlandês e o resultado foi bem perturbador. A pobre ave havia ingerido uma enorme quantidade de plásticos, especialmente pedaços de isopor e outros fragmentos.

O limite ecológico para a OSPAR é que não mais que 10% dos fulmares no Atlântico Norte contenham mais que 0.1g de plástico em seu estômago. Atualmente, todos os fulmares estudados ultrapassam essa meta em grandes proporções.

O workshop de fulmares foi uma experiência bastante válida para mim no sentido de calibrar meus métodos, me atualizar nas pesquisas atuais em aves marinhas e lixo marinho, fazer contatos profissionais e ainda fazer amigos. Com certeza foram dias bem divertidos e eu definitivamente tenho planos de voltar no ano que vem.

Fulmares aguardam sua vez de serem dissecados :) - ©Stefan Weiel

Fulmares aguardam sua vez de serem dissecados – ©Stefan Weiel

Dissecando minha ave irlandesa, auxiliada pelo Jan - ©Heidi Acampora

Dissecando minha ave irlandesa, auxiliada pelo Jan – ©Heidi Acampora

Meu fulmar irlandês tinha ingerido uma quantidade imensa de plástico - ©Jan van Franeker

Meu fulmar irlandês tinha ingerido uma quantidade imensa de plástico – ©Jan van Franeker

Grupo participante do workshop - ©Stefan Weiel

Grupo participante do workshop – ©Stefan Weiel

Ingestão comparativa de plástico em Puffinus tenuirostris (“Bobo de cauda curta”) adultos e juvenis

Uma das aves do estudo, com seu conteúdo estomacal, em sua maioria, plástico. © Heidi Acampora

Uma das aves do estudo, com seu conteúdo estomacal, em sua maioria, plástico.
© Heidi Acampora

por Heidi Acampora, da Associação Brasileira do Lixo Marinho

As aves marinhas têm sido usadas como indicadores da saúde dos ecossistemas marinhos. Isso se deve ao fato desses animais estarem mais suscetíveis à ingestão de lixo, tanto em áreas costeiras, como em alto mar, devido às suas longas migrações e dietas variadas. Outro fator envolvido é a tendência de que, ao alimentarem seus filhotes através de regurgitação, as aves passem adiante o material não digerido juntamente com a comida, no caso o plástico, a forma mais comum de lixo marinho. A ingestão de plástico pode ser mais problemática nos filhotes, pois esses animais não conseguem retirar desse material indigesto os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento, levando-os à morte.

Diversos estudos buscam entender o que leva aves à ingerirem plástico. Acredita-se que fragmentos plásticos assemelhem-se a alimentos comuns na dieta desses animais. Por exemplo, microesferas de plástico utilizadas na produção inicial de produtos (chamadas de “nurdles”, que são pequenas esferas de plástico que, ao serem derretidas e tratadas, transformam-se nos produtos plásticos que utilizamos no nosso dia a dia) poderiam ser confundidas com ovos de peixe, alimento comum de várias aves marinhas.

Um estudo recente realizado na Austrália, utilizou-se de um grande número de aves encontradas mortas na praia Main, na ilha de  North Stradbroke, em duas ocasiões (2010 e 2012) para investigar a ingestão de plástico nessas aves e comparar se havia alguma diferença entre o tipo, cor e quantidade de lixo, de acordo com a maturidade e sexo dos animais.

A pesquisa relata que mais de 67% das aves havia ingerido alguma forma de lixo, em sua maioria, plástico (n=102 adultos e n=27 juvenis). No total, 399 fragmentos de lixo antropogênico foram coletados. Testes estatísticos não indicaram uma relação significante entre as condições corporais dos animais e a ingestão de lixo. Porém, provou-se que juvenis ingerem significativamente mais lixo que adultos. Diferenças na ingestão de lixo entre machos e fêmeas não foram detectadas. Entretanto, através de uma comparação entre o lixo ingerido pelas aves e o lixo marinho encontrado em coletas em mar aberto, seguindo a rota de migração da espécie, descobriu-se que existe uma seletividade ativa por pedaços de plástico rígido, fragmentos de borracha e balões de festa.

A caracterização dos itens “preferidos” por determinadas espécies e idades é um importante fator, que pode vir a auxiliar na criação de medidas mitigatórias e preventivas para lidar com o problema do lixo marinho.


Leia mais sobre o estudo aqui: http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2013.11.009

Ou contacte a autora para um PDF completo do artigo através do email: Heidi.Acampora@globalgarbage.org.br

Heidi Acampora, Qamar A. Schuyler, Kathy A. Townsend, Britta Denise Hardesty, Comparing plastic ingestion in juvenile and adult stranded short-tailed shearwaters (Puffinus tenuirostris) in eastern Australia, Marine Pollution Bulletin, Volume 78, Issues 1–2, 15 January 2014, Pages 63-68, ISSN 0025-326X, http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2013.11.009.
(http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0025326X13007108)
Keywords: Ingestion; Marine debris; Plastic–Puffinus tenuirostris; Surface trawl sampling