Os oceanos pedem ajuda aos gritos por causa do lixo plástico

© Global Garbage Brasil

© Global Garbage Brasil

por Manipadma Jena, da Envolverde/IPS

Atenas, Grécia, 15/10/2014 – Um albatroz de pata negra alimentando seus filhotes com bolinhas de plástico, um bebê foca no Polo Norte com um saco enrolado no pescoço ou um barco de pesca perdido em alto mar porque um aparelho de pesca se enroscou na hélice, são exemplos que multiplicados por mil dão ideia do estado dos oceanos. Estima-se que cerca de 13 mil dejetos plásticos flutuam para cada quilômetros quadrado de oceano e que 6,4 milhões de toneladas de lixo desembocam neles a cada ano.

Pesquisadores e cientistas preveem um futuro nefasto para estas vastas extensões de água que são vitais para a existência de nosso planeta. Um cálculo conservador do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz que o prejuízo econômico do plástico nos ecossistemas marinhos chega a US$ 13 bilhões por ano, segundo um comunicado divulgado no dia 1º deste mês.

A saúde dos mares e dos ecossistemas oceânicos concentra a atenção da 12ª Conferência das Partes (COP 12) do Convênio sobre a Diversidade Biológica, que acontece na cidade sul-coreana de Pyeongchang até o dia 17. Entre as 20 Metas de Aichi para a Diversidade Biológica, acordadas na cidade japonesa de Nagoya em 2011, a preservação da biodiversidade marinha é um dos objetivos fundamentais. A meta 11 assinala a importância de identificar “áreas protegidas” para preservar os ecossistemas marinhos, especialmente dos efeitos danosos das atividades humanas.

Na 16ª reunião global dos Planos de Ação e Convênios sobre Mares Regionais, do Pnuma, que aconteceu em Atenas entre 20 de setembro e 1º deste mês, houve um consenso quase unânime sobre os dejetos representarem um “tremendo desafio” para o desenvolvimento sustentável.

Nessa oportunidade, cientistas e autoridades do mundo se reuniram para desenhar um novo mapa do caminho capaz de deter a rápida degradação de oceanos e mares e criar políticas para um uso sustentável, bem como integrá-los na agenda de desenvolvimento posterior a 2015. O tema está entre as maiores prioridades desde a Cúpula da Terra, como é chamada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Brasil em 2012 e conhecida como Rio+20.

O número 14 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são discutidos para substituir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio a partir do final de 2015, foca em reduzir de forma significativa a contaminação marinha até 2025. “Não tivemos nenhuma dificuldade para promover a explícita inclusão dessa meta nos ODS propostos”, destacou Jacqueline Alder, diretora de Ecossistemas Marinhos e de Água Doce da Divisão de Implementação da Política Ambiental do Pnuma. “Afinal, os oceanos são um problema de todos e todos geramos lixo”, pontuou à IPS.

“Os dejetos orgânicos são o principal elemento dos desperdícios que chegam aos mares, e representam entre 40% e 80% do lixo municipal nos países em desenvolvimento e 20% a 25% nos países ricos”, detalhou Tatjana Hema, oficial de programa para controle de componentes e avaliação de contaminação do Plano Mediterrâneo de Ação.

Porém, os microplásticos estão entre os contaminantes mais prejudiciais que inundam os mares. A substância danosa se forma quando os plásticos se fragmentam e se desintegram em partículas com não mais do que cinco milímetros de diâmetro, chegando até a um milímetro.

“Descobriu-se que os micro e nanoplásticos passaram às microparedes das algas”, explicou Vincent Sweeney, coordenador do Programa Global de Ação para a Proteção do Ambiente Marinho por meio de Atividades Terrestres (GPA). “Mas ainda não se sabe como afetará a cadeia alimentar de animais marinhos, nem a saúde humana quando ingeridas por intermédio dos peixes”, afirmou à IPS. “A existência do problema do microplástico até agora é especulativo. Ainda não temos noção de quanto isto afeta os oceanos”, ressaltou.

Os ODS relacionados com os oceanos devem se ajustar a quatro critérios: serem viáveis, factíveis, mensuráveis, alcançáveis. Ao contrário, por exemplo, da redução da acidificação do oceano (cuja única causa é o dióxido de carbono) que facilmente cumpre os quatro critérios, o problema do lixo não é tão simples, em parte porque “o que aparece na praia não necessariamente é um sinal do que ocorre no oceano”, destacou Sweeney.

“O lixo que chega aos mares se desloca por longas distâncias, se tornam internacionais. É difícil encontrar seu dono”, explicou Sweeney. Os dejetos se acumulam em torvelinhos em meio ao oceano, um fenômeno de circulação da água que costuma atrair os materiais que flutuam. “O risco de não conhecer a magnitude exata desses dejetos é que nos leva a pensar que é muito grande para manejar”, destacou o coordenador do GPA. Mas, mediante a sensibilização, se gera um “impulso” e agora se torna prioritário em diferentes níveis.

“Eliminar a contaminação dos oceanos é uma pretensão que não veremos em vida, mesmo se pararmos de jogar lixo no mar, o que ainda não conseguimos. O custo é impensável. A maioria do lixo está fora de nosso alcance. Além disso, limpar a superfície dos dejetos flutuantes levará muito tempo”, acrescentou. “Embora haja diferentes causas para a contaminação marinha em cada país, o denominador comum é que consumimos mais e geramos mais lixo, e a maioria é plástico”, enfatizou.

Além disso, a falta de informação e de alto custo para limpar a contaminação, os meios de execução ou de financiamento das metas dos ODS relacionados com o oceano representam um desafio adicional para as regiões. Na Grécia, se tomou consciência da crise quando Evangelos Papathanassiou, diretor de pesquisa do Centro Helênico de Pesquisa Marinha em Attiki, a 15 quilômetros de Atenas, relatou à imprensa ter encontrado uma máquina de costurar a quatro mil pés (1.219 metros) de profundidade no Mar Mediterrâneo.

“A contaminação marinha derivada da aquicultura, do turismo e do transporte é mais urgente no Mar Negro e no Mar Mediterrâneo, mas não recebem a atenção que merece”, destacou Sweeney. Para que a nova era de desenvolvimento tenha sucesso, os seres terrestres devem prestar urgente atenção ao mar e ao oceano, que pede ajuda aos gritos.

Um desafio adicional

Em países da Ásia Pacífico como China, Japão, Rússia e Coreia do Sul foram criadas práticas replicáveis, segundo Alexander Tkalin, coordenador do Plano de Ação do Pacífico Nordeste do Pnuma. “Coreia do Sul e Japão são grandes doadores e ambos adotaram leis específicas relacionadas com os desperdícios que chegam aos mares”, contou à IPS.

“O Japão mudou a legislação para incentivar a limpeza de dejetos marinhos, ajustando a lei sob a qual, normalmente, paga-se multa por contaminar, mas agora o governo paga às municipalidades para que limpem as praias depois de um tufão, quando raízes e restos do solo marinho estão espalhados na praia”, acrescentou Tkalin. Na Holanda e nos Estados Unidos também há programas sólidos sobre lixo marinho, como no Haiti, segundo Sweeney.

ONU ouve apelos a maior protecção dos ecossistemas marinhos – plástico nos oceanos aumenta

O lixo marinho afeta comunidades e mares em todas as regiões do mundo e afeta negativamente a biodiversidade, a pesca e as economias costeiras. Foto: UNEP GRID Arendal/Lawrence Hislop

O lixo marinho afeta comunidades e mares em todas as regiões do mundo e afeta negativamente a biodiversidade, a pesca e as economias costeiras. Foto: UNEP GRID Arendal/Lawrence Hislop

A acumulação constante de lixo nos oceanos de todo o mundo é um “desafio tremendo” e uma crescente ameaça para os ecossistemas marinhos do planeta com potencial para ter “consequências sócio-económicas significativas”, ouviu o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA), no último dia do 16º Encontro Global das Convenções e dos Planos de Acção das Regiões Marítimas, realizado em Atenas, na Grécia.

Cientistas, decisores políticos e as delegações reuniram em Atenas num momento em que aumenta a preocupação a nível mundial sobre o aumento da acumulação lixo de plástico nos mares e oceanos – um problema que poderá  representar cerca de 13 mil milhões de dólares em danos para a vida marinha e para os seus habitats, e que requer uma solução abrangente.

Na sua intervenção durante o encontro, Jacqueline Alder, coordenadora da  Divisão de Ecossistemas de Água doce e Marinhos, aplaudiu a criação de um “roteiro de visão” que visa traçar um caminho directo para governança dos oceanos na próxima década, particularmente nas áreas da extracção, governança, impactos das alterações climáticas, acidificação dos oceanos e poluição.

“Fazer mudanças relativas à governação ou gestão dos oceanos, especialmente quando os problemas são transfronteiriços, leva muitos anos”, afirmou Adler.

“O roteiro vai-nos permitir, a todos aqui presentes e àqueles que nos seguem,  ficar concentrados nos resultados que precisamos atingir nas décadas seguintes”.

O encontro gerou amplo consenso entre os especialistas e os decisores políticos sobre o problema do microplástico – pequenos pedaços de plástico com menos de um milímetro – que dizem, merece mais atenção para perceber melhor o impacto físico e biológico nos ecossistemas que poluem.

Para além disso, os especialistas e decisores políticos aconselharam a que se adopte uma abordagem em três níveis no combate ao lixo marinho ao nível nacional, regional e municipal, uma vez que são os municípios que costumam ter a responsabilidade da gestão do lixo.

O encontro do PNUMA coincidiu com a inauguração de uma instalação artística sobre o tema da poluição marítima,  no hall de entrada da sede da ONU em Nova Iorque intitulado de “The Garbage Patch State”.

O trabalho é uma criação da artista Italiana, Maria Cristina Finuccim e foi inspirada nas cinco manchas de lixo, conhecidas como Giros que se formaram nos oceanos, em consequência da acumulação de resíduos ou outros materiais descartados que são arrastados pelas correntes e que agora ocupam cerca de 15,915,933 quilómetros quadrados de oceano, ameaçando o meio ambiente marinho e as plantas e os animais que vivem nele.

2 de outubro de 2014, Centro de Notícias da ONU | traduzido e editado por UNRIC

Ata da 6ª Reunião do Grupo de Trabalho Sacolas Plásticas MMA

Plastic bags, like these floating near the Philippines, look like jellyfish. These pieces of ocean debris float on ocean currents and accumulate in collections called "garbage patches."

Photograph by Norbert Wu/Minden Pictures

6ª Reunião GT Sacolas Plásticas

Data: 27 de setembro de 2013
Horário: 10h às 17h
Local: Esplanada dos Ministérios bloco B Ministério do Meio Ambiente
Ata – 6ª Reunião do Grupo de Trabalho Sacolas Plásticas

Clique no link abaixo para fazer o download (arquivo Zip, 873 KB) das 6 atas das reuniões do GT Sacolas Plásticas MMA.
www.globalgarbage.org.br/biblioteca/Atas_reunioes_GT_Sacolas_Plasticas_MMA.zip

Clique no link abaixo para saber mais sobre o GT Sacolas Plásticas MMA.
www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/gt-sacolas-pl%C3%A1sticas

Estudo encontra poluição de plástico em 88% da superfície dos mares

Expedição feita em 2010 coletou mais de 3 mil amostras oceânicas.
Estima-se que oceano tenha entre 10 mil e 40 mil toneladas de plástico.

© NOAA Marine Debris Program

© NOAA Marine Debris Program

G1 – Globo Natureza
Da AFP
01/07/2014 07h00

Até 88% da superfície dos oceanos do mundo está contaminada com lixo plástico, elevando a preocupação com os efeitos sobre a vida marinha e a cadeia alimentar, afirmaram cientistas nesta segunda-feira (30).

Os produtos plásticos produzidos em massa para brinquedos, sacolas, embalagens de alimentos e utensílios chegam aos mares arrastados pela água da chuva, um problema que deve piorar nas próximas décadas.

As descobertas, publicadas no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences” (“PNAS”), se baseiam em mais de 3 mil amostras oceânicas, coletadas ao redor do mundo por uma expedição científica em 2010.

“As correntes oceânicas carregam objetos plásticos, que se partem em fragmentos menores, devido à radiação solar”, disse o diretor das pesquisas, Andrés Cozar, da Universidade de Cádiz, na Espanha.

“Estes pequenos pedaços de plástico, conhecidos como microplásticos, podem durar centenas de anos e foram detectados em 88% da superfície oceânica analisada durante a Expedição Malaspina 2010“, acrescentou.

Os cientistas avaliaram que a quantidade total de plástico nos oceanos do mundo – entre 10 mil e 40 mil toneladas – atualmente é menor do que as estimativas anteriores. No entanto, levantaram novas preocupações sobre o destino de tanto plástico, particularmente os pedaços menores.

O estudo revelou que os fragmentos de plástico, “entre alguns mícrons e alguns milímetros de tamanho, são sub-representados em amostras da superfície do mar”.

Mais pesquisas são necessárias para descobrir aonde estas partículas vão e quais os efeitos que têm na vida marinha.

“Estes microplásticos têm influência no comportamento e na cadeia alimentar de organismos marinhos”, disse Cozar. “Mas provavelmente, a maioria dos impactos relacionada à poluição do plástico nos oceanos não é conhecida”, concluiu.


Plastic debris in the open ocean
Andrés Cózar, Fidel Echevarría, J. Ignacio González-Gordillo, Xabier Irigoien, Bárbara Úbeda, Santiago Hernández-León, Álvaro T. Palma, Sandra Navarro, Juan García-de-Lomas, Andrea Ruiz, María L. Fernández-de-Puelles, and Carlos M. Duarte
PNAS 2014 ; published ahead of print June 30, 2014, doi:10.1073/pnas.1314705111

Afogando os oceanos em plástico

Uma abordagem internacional é necessária para protegê-los de um desastre ambiental

Porto da Barra, Salvador, Bahia. © Bernardo Mussi de Almeida

Porto da Barra, Salvador, Bahia. © Bernardo Mussi de Almeida

Por Mark Gold e Cara Horowitz
Los Angeles Times
4 de novembro de 2013
Traduzido por Natalie Andreoli, Global Garbage Brasil

Você provavelmente já viu as imagens de golfinhos capturados em redes de pesca monofiladas abandonadas, ou de vastas áreas de lixo plástico flutuando em águas remotas do Pacífico, ou de tartarugas marinhas consumindo sacolas plásticas que se parecem notavelmente com um de seus alimentos favoritos: a água-viva. Ou talvez, depois de uma tempestade, você já andou em uma praia que se assemelhava a um aterro sanitário. Cerca de 20 milhões de toneladas de poluição de plástico entram nos oceanos a cada ano e isto está devastando o ambiente marinho.

O lixo plástico também é custoso. Somente na Costa Oeste dos EUA, de acordo com um estudo recente da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (“EPA” – Environmental Protection Agency), o custo para se limpar o lixo marinho chega a mais de US$ 13 por pessoa por ano. E pelo fato do plástico normalmente não se degradar no oceano, a poluição de hoje será um problema para muitas gerações que estão por vir.

Localmente, houve algumas histórias de sucesso. Graças aos requisitos ambientais estaduais e federais, a região de Los Angeles (EUA) instalou telas em mais de 50.000 caixas de águas pluviais, bem como suplementos que mantêm tudo, exceto os menores fragmentos plásticos, fora de rios locais, praias e baías. Além disso, a proibição de sacolas plásticas de uso único em um certo número de jurisdições locais reduziram o seu uso em dezenas de milhões de sacolas por ano. E as seguintes cidades da Califórnia (EUA): West Hollywood, Manhattan Beach, Santa Monica e Malibu proibiram as embalagens de isopor de uso único para alimentos. Todas estas medidas significam menos plástico indo parar no oceano localmente.

Em todo o estado, a legislação para proibir as sacolas plásticas falhou inúmeras vezes, devido aos esforços bem sucedidos do lobby de fabricantes de sacolas plásticas e outros, mas, no entanto, mais de 10 milhões de californianos vivem em cidades que as baniram. O State Water Resources Control Board (“Conselho de Controle de Recursos Hídricos do Estado”) vai lançar, em breve, uma política estadual de lixo que se baseia em medidas de controle de lixo bem sucedidas na área de Los Angeles.

Porém, precisamos de políticas muito mais abrangentes e a história, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, ainda é sombria. O marco do ano passado, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20 reconheceu o lixo marinho como um importante problema ambiental que o mundo deve enfrentar, e apelou para uma ação até 2025 para “alcançar reduções significativas no lixo marinho para evitar danos aos ambientes costeiros e marinhos.”

No entanto, um recente estudo da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA – University of California, Los Angeles) analisou dezenas de tratados, programas e políticas existentes em todo o mundo e achou todos eles severamente ineficazes. Em geral, os acordos internacionais bem intencionados impõem normas vagas ou voluntárias, exigem pouco ou nenhum monitoramento, são gravemente subfinanciados e difíceis de se aplicar. De fato, os pesquisadores da UCLA concluíram que não havia praticamente nenhum recurso sob o direito internacional para tratar a maioria do lixo marinho plástico em alto mar.

Mesmo o mais eficaz dos tratados em vigor, a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (MARPOL), tem enormes lacunas. Por exemplo, o tratado considera como exceções a perda acidental ou a eliminação de plástico por navios ou o escapamento de lixo decorrente de avarias sofridas pelos seus equipamentos, e deixa as decisões de cumprimento e penalidades para os estados, muitas vezes relutantes.

Para alcançar as reduções drásticas necessárias para conter a crise do lixo marinho plástico, precisamos de uma solução abrangente semelhante à do Protocolo de Montreal, um tratado internacional que reduziu drasticamente o uso global de CFCs (sigla para clorofluorcarbonos), que destroem a camada de ozônio. Um tratado eficaz deve incluir requisitos rigorosos de monitoramento, avaliação de conformidade de terceiros, mecanismos de financiamento e requisitos facilmente exigíveis com pesadas penalidades.

Um grande problema é que os tratados ambientais internacionais podem levar uma década ou mais para serem negociados. Nesse ínterim, portanto, os países interessados devem também implementar políticas e programas regionais, nacionais e locais para lidar com o lixo marinho plástico.

As ações possíveis podem incluir: a criação de um programa de certificação de produtos “amigos do oceano” (“ocean-friendly“); proibições regionais e nacionais sobre os tipos mais comuns e prejudiciais de lixo plástico; a expansão de programas que oferecem incentivos econômicos para os fabricantes gerenciarem os resíduos de plástico de forma sustentável; a criação e implementação de certificação e programas de rastreamento para operações de pesca e aquicultura; e o estabelecimento de fontes de financiamento para remediação do lixo marinho através de taxas de resgate de produtos e taxas de contêineres nos portos.

Nenhuma ação individual vai resolver a crise do lixo marinho plástico, mas a rápida implementação dessas políticas pode ter um enorme efeito positivo na redução de um problema ambiental crítico.

Mark Gold é diretor associado do Institute of the Environment and Sustainability (Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade) da UCLA. Cara Horowitz é diretora-executiva do Emmett Center on Climate Change and the Environment (Centro Emmett sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente) da Faculdade de Direito da UCLA.

Lixo sem fim na praia do Bessa

© Jó de Lima

© Jó de Lima

Jó de Lima
Instagram

De um lado o que o ser humano faz com sua má educação. Lixo sem fim na praia do Bessa. Do outro a consequências. Segundo né falaram, chega a mais de trezentas tartarugas marinhas mortas desde julho apenas nesse trecho do litoral. Absurdo. Ou se impõe multas pesadas para os imbecis que frequentam essas praias, especialmente o trecho entre o iate clube e o Mag shopping ou a catástrofe vai continuar. Só eu já contei, com este, cinco animais dessa espécie, de grande porte, mortos por comerem lixo. Indignado. Se vc concorda, compartilha e se conhecer alguém da secretaria do meio ambiente, prefeitura, governo, imprensa, qualquer coisa, leva ao conhecimento porque ta virando o caos.

Relatório da UCLA incita novo esforço de política global para enfrentar a crise do lixo plástico nos oceanos

Porto da Barra, Salvador, Bahia. © Bernardo Mussi de Almeida

Porto da Barra, Salvador, Bahia. © Bernardo Mussi de Almeida

Por Lauri Gavel
UCLA School of Law
29 de outubro de 2013
Traduzido por Natalie Andreoli, Global Garbage Brasil

O lixo plástico é um dos problemas mais importantes que os ambientes marinhos do mundo enfrentam. No entanto, na ausência de uma estratégia global coordenada, um número estimado de 20 milhões de toneladas de lixo plástico entra no oceano a cada ano.

Um novo relatório de autores do Centro Emmett da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA – University of California, Los Angeles, School of Law’s Emmett Center) sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente e do Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade da UCLA (UCLA’s Institute of the Environment and Sustainability) explora as origens e os impactos do lixo marinho plástico e oferece recomendações de políticas nacionais e internacionais para lidar com esses problemas crescentes – uma abordagem direcionada, multifacetada que visa proteger a vida selvagem oceânica, as águas costeiras, as economias costeiras e a saúde humana.

“Deter a Maré de Lixo Marinho Plástico: Uma Agenda de Ação Global” (“Stemming the Tide of Plastic Marine Litter: A Global Action Agenda“), o mais recente resumo do Centro Emmett publicado no Pritzker Environmental Law and Policy Brief (“Resumos de Política e Direito Ambiental Pritzer”, em português), documenta os efeitos devastadores do lixo marinho plástico, detalhando como o plástico forma uma grande parte do nosso fluxo de resíduos e, normalmente, não biodegrada ​​em ambientes marinhos. O lixo marinho plástico tem uma ampla gama de impactos ambientais e econômicos adversos, desde a morte de animais selvagens e recifes de corais degradados até bilhões de dólares em custos de limpeza, danos a embarcações marítimas e perda de receitas no turismo e na pesca. O resumo descreve a inadequação de mecanismos jurídicos internacionais existentes para resolver esta crise do lixo, convocando a comunidade mundial para desenvolver um novo tratado internacional e, ao mesmo tempo, incita ações imediatas para implementar soluções regionais e locais.

“O lixo marinho plástico é uma ameaça ambiental global crescente que impõe grandes custos econômicos à indústria e ao governo”, disse o co-autor do relatório Mark Gold, diretor associado do Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Institute of the Environment and Sustainability). A poluição marinha por plástico degrada-se lentamente e se espalhou para todos os cantos dos oceanos do mundo, desde ilhas remotas até o fundo do oceano. Meias medidas voluntárias não estão impedindo impactos globais devastadores para a vida marinha, a economia e a saúde pública. Embora não exista qualquer panaceia, identificamos as 10 melhores ações de prevenção da poluição de plástico que podem ser implementadas agora para começar a reduzir drasticamente o lixo marinho plástico”.

Em “Deter a Maré de Lixo Marinho Plástico” (“Stemming the Tide of Plastic Marine Litter“), os autores fazem uma revisão do universo de estudos, políticas e acordos internacionais relevantes para o problema e fornecem um conjunto de recomendações para alcançar reduções significativas no lixo marinho plástico. A lista “Top 10” (as 10 mais) das ações recomendadas no relatório inclui um novo tratado internacional com fortes mecanismos de monitoramento e fiscalização; ações de regulamentação nacionais e locais, como a proibição dos tipos mais comuns e prejudiciais de lixo plástico; programas de responsabilidade estendida ao produtor ; e a criação de um programa de certificação “amigo do oceano” (“ocean friendly“) para produtos plásticos.

“Devido à má gestão global do plástico estar impulsionando o crescente problema do lixo marinho, respostas políticas são necessárias em todos os níveis, desde a comunidade internacional das nações até as comunidades locais e nacionais”, disse a co-autora do relatório, Cara Horowitz, diretora-executiva do Centro Emmett sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente (Emmett Center on Climate Change and the Environment). “Podemos agir agora para rapidamente aumentar as políticas e programas eficazes para tratar o lixo marinho plástico. E se espera que a colaboração internacional para reduzir o lixo plástico estabeleça uma base para uma cooperação mais ampla sobre outras questões importantes que afetam a saúde dos nossos oceanos”.

O lixo marinho plástico tem suas origens tanto em fontes terrestres como marinhas, desde esgotos não tratados, indústrias e fábricas, até navios e plataformas de petróleo e gás. Empurrado pelo movimento natural de ventos e correntes marinhas – muitas vezes por longas distâncias – o lixo está presente nos oceanos em todo o mundo, bem como nos sedimentos no fundo do mar e nas areias do litoral. Conforme as partículas quebram e se dispersam, elas têm uma grande variedade de consequências adversas ao meio ambiente, à saúde pública e à economia, com potencial para matar a vida selvagem, destruir os recursos naturais e prejudicar a cadeia alimentar.

Os periódicos “Pritzker Environmental Law and Policy Briefs” são publicados pela Faculdade de Direito da UCLA e pelo Centro Emmett sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente em conjunto com pesquisadores de uma vasta gama de disciplinas acadêmicas e a ampla comunidade do direito ambiental. Eles são possíveis através de uma generosa doação feita por Anthony “Tony” Pritzker, sócio e co-fundador do grupo Pritzker. Os resumos fornecem análises de especialistas para aprofundar o diálogo público sobre as questões que afetam o meio ambiente. Todos os trabalhos da série estão disponíveis aqui.

A Faculdade de Direito da UCLA (UCLA School of Law), fundada em 1949, é a maior dentre as mais recentes faculdades de Direito no país e estabeleceu uma tradição de inovação em sua abordagem de ensino, pesquisa e bolsa de estudos. Com cerca de 100 professores e 1.100 alunos, a escola foi pioneira no ensino clínico, é líder em pesquisa e formação interdisciplinar, e está na vanguarda dos esforços para vincular a pesquisa aos seus efeitos sobre a sociedade e a profissão jurídica.

Fibras de roupas sintéticas: o perigo oculto

© Shutterstock.com

© Shutterstock.com

Gabriel Monteiro
PortalCiência
8 de outubro de 2013

Roupas sintéticas ou malhas que contém Poli (Tereftalato de Etileno), ou simplesmente PET, liberam fibras na máquina de lavar roupa, assim como qualquer outra roupa sintética. O detalhe é que o tratamento de esgoto mais comum não consegue remover estas fibras plásticas, que vão parar nos oceanos e tem grande potencial para impactar todo o ecossistema marinho.

A poluição dos oceanos por plásticos é altamente preocupante, no entanto, é noticiado apenas uma pequena parte dos impactos causados. O mais comum encontrar na mídia notícias de banhistas em meio a mundaréu de lixo nas praias, ou então, fotos e vídeos de tartarugas e aves marinhas que morreram por causa da ingestão acidental de plásticos. Os impactos do plástico no mar vão muito além disso e podem, inclusive, atingir o homem. Algum leitor já ouviu falar de micro fibras de plástico no mar? Dos que já ouviram falar, saberiam dizer seus impactos?

As micro fibras plásticas têm o potencial para impactar diretamente o zooplâncton, dado seu tamanho reduzido (menor que 1 mm). O zooplâncton marinho é a comunidade pequenos animais (consumidores primários) da maior teia alimentar do mundo. Estas fibras são capazes de entupir o trato digestório destes animais levando-os à morte, ou então, à complicações que inviabilizam sua reprodução. Qual o desdobramento ou importância disso? Estamos impactando a base consumidora da pirâmide alimentar dos oceanos, ou seja, todo o ecossistema responderá a esse impacto, o que inclui resposta das comunidades de peixes que já impactadas pela sobrepesca e poluição causada pelo homem.

Mark Anthony Browne concluiu em seu estudo publicado na revista Environmental Science & Technology que o efluente das máquinas de lavar são importantes fontes de fibras plásticas que acabam nos oceanos. Segundo o autor “fibras de poliéster, acrílico, polipropileno, polietileno e poliamida contaminam áreas costeiras em escala global, especialmente áreas densamente povoadas e habitats que receberam esgoto”. Outro estudo, do pesquisador Daniel Habib, publicado na revista Water, Air, and Soil Pollution afirma que as fibras encontradas em seu estudo tiveram origem no efluente de processos de lavagem de roupa e que não foram retidas pelo sistema de tratamento de esgoto. Ainda segundo Habib, o processo de ultra-filtração ao final do tratamento de esgoto poderia reter estas partículas tão pequenas do efluente tratado.

Insiram neste contexto, as já famosas camisetas e roupas fabricadas a partir de malha têxtil que incorpora material plástico (PET). Adivinhe o que acontece quando essas roupas que contém fibras plásticas são lavadas… Elas soltarão fibras, que, provavelmente, não serão retiradas do efluente no tratamento de esgoto e seguirão para rios e oceanos. As camisas de PET tem um importante caráter educativo levando o consumidor a optar, cada vez mais, por produtos que sejam ecologicamente corretos, ou menos impactante ao meio ambiente. Sabendo do impacto que essas fibras podem ter no ecossistema marinho, podemos considerar a camiseta PET como ecologicamente correta?

Este artigo não visa tirar credibilidade das camisetas e roupas de PET, e sim, alertar os consumidores sobre os impactos que estes produtos, assim como todas as vestimentas e malhas sintéticas, causam no ambiente. Pesquisas científicas na área têxtil que visem reduzir a liberação de fibras durante o processo de lavagem podem colaborar significativamente para a proteção da vida nos oceanos. Paralelamente, o incremento dos processos de tratamento de esgoto podem evitar que estas fibras cheguem aos oceanos. Fica a dica: dê preferência a roupas de algodão ou fibras naturais, todo o ecossistema marinho agradece!