
Uma das aves do estudo, com seu conteúdo estomacal, em sua maioria, plástico.
© Heidi Acampora
por Heidi Acampora, da Associação Brasileira do Lixo Marinho
As aves marinhas têm sido usadas como indicadores da saúde dos ecossistemas marinhos. Isso se deve ao fato desses animais estarem mais suscetíveis à ingestão de lixo, tanto em áreas costeiras, como em alto mar, devido às suas longas migrações e dietas variadas. Outro fator envolvido é a tendência de que, ao alimentarem seus filhotes através de regurgitação, as aves passem adiante o material não digerido juntamente com a comida, no caso o plástico, a forma mais comum de lixo marinho. A ingestão de plástico pode ser mais problemática nos filhotes, pois esses animais não conseguem retirar desse material indigesto os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento, levando-os à morte.
Diversos estudos buscam entender o que leva aves à ingerirem plástico. Acredita-se que fragmentos plásticos assemelhem-se a alimentos comuns na dieta desses animais. Por exemplo, microesferas de plástico utilizadas na produção inicial de produtos (chamadas de “nurdles”, que são pequenas esferas de plástico que, ao serem derretidas e tratadas, transformam-se nos produtos plásticos que utilizamos no nosso dia a dia) poderiam ser confundidas com ovos de peixe, alimento comum de várias aves marinhas.
Um estudo recente realizado na Austrália, utilizou-se de um grande número de aves encontradas mortas na praia Main, na ilha de North Stradbroke, em duas ocasiões (2010 e 2012) para investigar a ingestão de plástico nessas aves e comparar se havia alguma diferença entre o tipo, cor e quantidade de lixo, de acordo com a maturidade e sexo dos animais.
A pesquisa relata que mais de 67% das aves havia ingerido alguma forma de lixo, em sua maioria, plástico (n=102 adultos e n=27 juvenis). No total, 399 fragmentos de lixo antropogênico foram coletados. Testes estatísticos não indicaram uma relação significante entre as condições corporais dos animais e a ingestão de lixo. Porém, provou-se que juvenis ingerem significativamente mais lixo que adultos. Diferenças na ingestão de lixo entre machos e fêmeas não foram detectadas. Entretanto, através de uma comparação entre o lixo ingerido pelas aves e o lixo marinho encontrado em coletas em mar aberto, seguindo a rota de migração da espécie, descobriu-se que existe uma seletividade ativa por pedaços de plástico rígido, fragmentos de borracha e balões de festa.
A caracterização dos itens “preferidos” por determinadas espécies e idades é um importante fator, que pode vir a auxiliar na criação de medidas mitigatórias e preventivas para lidar com o problema do lixo marinho.
Leia mais sobre o estudo aqui: http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2013.11.009
Ou contacte a autora para um PDF completo do artigo através do email: Heidi.Acampora@globalgarbage.org.br
Heidi Acampora, Qamar A. Schuyler, Kathy A. Townsend, Britta Denise Hardesty, Comparing plastic ingestion in juvenile and adult stranded short-tailed shearwaters (Puffinus tenuirostris) in eastern Australia, Marine Pollution Bulletin, Volume 78, Issues 1–2, 15 January 2014, Pages 63-68, ISSN 0025-326X, http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2013.11.009.
(http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0025326X13007108)
Keywords: Ingestion; Marine debris; Plastic–Puffinus tenuirostris; Surface trawl sampling