Rio reconhece necessidade de “enxugar gelo” na baía de Guanabara para Olimpíada

Foto: Rodrigo Thome/2olhares.com

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RIO DE JANEIRO, 10 Abr (Reuters) – O governo do Estado do Rio de Janeiro assumiu nesta quinta-feira que vai ser necessário “enxugar gelo” para garantir as condições de limpeza da baía de Guanabara para a realização das provas de vela dos Jogos Olímpicos de 2016.

“Limpar lixo da baía de Guanabara, o flutuante, é enxugar gelo. Mas é o dever de casa que nós temos que fazer”, disse o subsecretário de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Portinho, que assumiu o cargo nesta semana e será o homem à frente do problema.

Ambientalistas e velejadores têm alertado que será difícil limpar a raia olímpica dentro do prazo diante da situação atual, em que o lixo se acumula tanto nas águas quanto nas margens da baía. Mesmo assim, o local vai receber em agosto o primeiro evento-teste oficial dos Jogos.

Entre as medidas previstas está o lançamento, até o final de abril, de licitações para mais sete “ecobarcos”, que recolhem resíduos sólidos da superfície da água, e novas ecobarreiras, que retém o lixo na foz dos rios.

Mas, segundo o subsecretário, que percorreu parte do trajeto das provas de vela na manhã desta quinta, essas medidas são paliativas e incapazes de resolver o problema da poluição enquanto os municípios do entorno da baía não se engajarem no saneamento de suas redes de esgoto.

“Os municípios estão de costas para a baía de Guanabara e acham que não é responsabilidade deles o lixo que é jogado na baía de Guanabara”, afirmou.

Ao se candidatar como sede da Olimpíada, o Rio de Janeiro se comprometeu a tratar e sanar 80 por cento do esgoto despejado na baía até os Jogos. No entanto, de acordo com o coordenador do programa estadual de saneamento da baía de Guanabara, Gelson Serva, apesar da continuidade dos esforços apenas metade dessa meta foi alcançada até agora.

“É um trabalho enorme em todas as áreas. Agora, não tem milagre, as obras de infraestrutura não se resolvem da noite para o dia… É muito trabalho de urbanização, de mobilização de pessoas”, disse Serva.

Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

SAÚDE DOS ATLETAS

Os pontos mais críticos de preocupação no que se refere aos Jogos Olímpicos são a praia de Botafogo e a Marina da Glória, pontos de largada das provas de vela e onde a presença de coliformes fecais está acima dos níveis considerados normais.

Em dias de chuva, nesses locais o esgoto dos bairros adjacentes vaza diretamente para a baía, o que tem levantado preocupações a respeito da saúde dos atletas.

Portinho garantiu, no entanto, com base no acompanhamento mensal feito pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que os atletas podem entrar na água sem medo, como “nas praias do Leblon e Ipanema”.

A poluição da baía de Guanabara se soma a outros problemas enfrentados pelos organizadores dos Jogos Olímpicos, incluindo a falta de um orçamento completo, obras atrasadas e uma greve de operários do Parque Olímpico.

Nesta quinta-feira, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que vai adotar uma série de medidas para acelerar os preparativos olímpicos, incluindo uma presença mais forte no Rio para monitorar a organização dos Jogos.

(Por Felipe Pontes)

Poluição na Baía de Guanabara é um desafio olímpico

Autoridades correm contra o tempo para prepará-la para competições da Rio 2016

De frente para o Pão de Açúcar, grupo de remadores numa canoa havaiana corta uma extensa ilha de lixo e espuma: pequenas embarcações usadas no esporte já encalharam em meio a detritos na Baía de Guanabara Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

De frente para o Pão de Açúcar, grupo de remadores numa canoa havaiana corta uma extensa ilha de lixo e espuma: pequenas embarcações usadas no esporte já encalharam em meio a detritos na Baía de Guanabara
Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

Ludmilla de Lima – Jornal O Globo
Publicado: 16/02/14 – 6h00
Atualizado: 17/02/14 – 8h39

RIO – As canoas havaianas se lançam ao mar na Urca antes de o sol nascer por trás do Morro do Morcego, em Niterói. Na reta do Forte da Laje, os adeptos da modalidade remam nas águas calmas, pontilhadas por navios e protegidas por fortalezas. Seria o casamento perfeito entre o esporte e um cenário idílico se, a cada remada, as canoas não precisassem cortar ilhas de lixo flutuante e uma espuma amarelada e borbulhante, resultado da proliferação de algas com ajuda do esgoto. Diante de tantos obstáculos, se exercitar na Baía de Guanabara, seja de canoa, caiaque, vela ou stand up paddle, ganha dimensão olímpica.

A pouco mais de dois anos dos Jogos, o desafio de despoluir em 80% a baía, onde acontecerão as competições de vela, parece hercúleo. Afinal, ela recebe ainda 60% de todo o esgoto produzido à sua volta — ou seis mil litros por segundo — e toneladas de lixo diariamente. Hoje, esportistas travam uma disputa contra a sujeira. Numa manhã de janeiro, três caiaqueiros — Bruno Fitaroni, Bruno Carelli e Rafael Cajá — deslizavam pelo espelho d’água quando, perto do Porto do Rio, se depararam com um mar de tom incomum, alaranjado, que destoava do resto da baía.

Remando em volta da Ilha da Pombeba, que seria uma pequena joia de praias de areia branca se não fosse o lixo, que ocupa até a copa das árvores, os caiaqueiros simplesmente não conseguiam enxergar o remo sob a água, de tão opaca e cinza que era. O número incontável de pneus de todos os tamanhos boiando em volta da ilha espanta quem é remador de primeira viagem.

À medida que se vai remando em direção ao fundo da Baía de Guanabara, mais chocante é a poluição. Na altura do Caju, o mar é fétido. O nível de coliformes na área da Ilha do Fundão, de acordo com dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) sobre o monitoramento da água da baía, repassados com frequência ao Comitê Organizador dos Jogos, pode atingir 390 mil, ou 390 vezes o limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O total registrado é a média de 2013 (entre janeiro e setembro), que consta do último boletim.

Mas a orla da Zona Sul não escapa aos elementos mais indesejáveis da baía. Ao longo da murada da Urca, saídas de esgoto fazem os atletas taparem o nariz.

— O que me espanta mais é o que está na cara de todo mundo, ali na Praia de Botafogo. Teve um dia em que fui pegar um aluno e a linha da maré estava ocupada por fezes. É nojento — conta o instrutor de caiaque Bruno Fitaroni, que já passou mal devido à poluição da baía. — Uma vez, eu e um amigo num caiaque duplo, ao nos aproximarmos do Porto, vimos um negócio evaporar dessa água laranja. Começamos a ter uma sensação de desmaio e saímos às pressas.

Os que praticam atividades na baía não estão livres de situações insólitas.

— Quando tem chuva forte, a drenagem da cidade carrega o lixo para a baía. Com a maré e o vento, se formam ilhas de lixo flutuante, às vezes profundas. São como se fossem plataformas. Eu mesmo já fiquei preso várias vezes em ilhas de lixo, que agarram no leme — diz Paulo Cordeiro, biólogo e professor de canoa havaiana.

Quem adotou o stand up paddle como atividade de verão — hoje praticado no Flamengo, na Urca e na orla de Niterói — já sabe que, mesmo remando muito, às vezes é impossível achar um trecho mais limpo para dar um mergulho. Números sobre lixo recolhido dão uma ideia do problemão que chega à baía: dez ecobarreiras em saídas de rios retêm cerca de 18 toneladas de detritos por mês, enquanto três ecobarcos, no seu primeiro mês de operação, tiraram 14 toneladas.

— Já teve dia em que não dava para entrar na água. Ver uma privada ou uma cadeira boiando é muito feio — comentava o instrutor de stand up paddle Luiz Rocha, que dá aulas na Praia de Icaraí, enquanto tirava de dentro do mar um pneu.

Risco para velejadores

Para os velejadores, o estado atual da Guanabara é um pesadelo.

— Vai ser a raia mais suja da história olímpica. Espero que isso seja melhorado, mas vamos ganhar o troféu de pior água dos Jogos — afirma Torben Grael, treinador-chefe da seleção brasileira de vela, que, na sua última regata na baía, desviou de um cone de trânsito à deriva.

A Secretaria estadual do Ambiente diz que tecnicamente é possível vencer esse jogo. A meta olímpica de limpar em 80% o espelho d´água prevê uma série de ações, que vão de ecobarreiras em saídas de rios e ecobarcos para recolher o lixo à ampliação das redes coletoras de esgoto e de Unidades de Tratamento de Rio (UTRs). As medidas substituem o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, lançado em 1994, mas que pouco avançou.

Índio da Costa, que assumiu a Secretaria estadual do Ambiente na semana retrasada, ressalta que ainda precisa estudar as fontes de recursos para colocar todos os planos em prática. E eles são muitos. Índio afirma que, de concreto, estão sendo investidos R$ 1,5 bilhão — recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam) — na instalação de redes coletoras pelo Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam). O objetivo é passar de 40% para 60% o percentual de esgoto tratado em volta da baía até 2016.

Para chegar à meta olímpica, Índio destaca que são necessárias cinco UTRs (unidades na foz dos rios, onde retiram 80% de toda a poluição).

— As UTRs não são uma solução definitiva, mas impedem que a poluição vá para o mar até que se acabe de fazer a grande obra de saneamento no entorno da baía. A do Rio Irajá fica pronta em março, e a dos rios Pavuna e Meriti começará a ser construída até abril. Mas são necessárias mais três para atingir esses 80% — diz Índio.

A secretaria vai licitar mais oito ecobarreiras (feitas com PET e cabos de aço) este mês, que se somarão às dez existentes. Outra licitação contratará mais sete ecobarcos. No momento são três circulando.

— O compromisso assumido é limpar 80% do espelho d’água da baía até 2016, mas só com saneamento tradicional não vamos chegar a isso — declarou Carlos Minc, ex-secretário do Ambiente.

Diante da complexidade do problema, chegou-se a cogitar a transferência da disputa da vela para Búzios. O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 diz que não há chances de mudança. Pelo monitoramento do Inea, as três áreas das raias de competição (cuja base será a Marina da Glória) apresentaram no ano passado resultados satisfatórios, com média de 180 coliformes, enquanto o limite é de mil. Mesmo assim, a poluição que se vê hoje por todo lado pode jogar por terra uma medalha.

— O lixo atrapalha a performance. Já pensou um atleta que treinou oito anos para a competição perder posição porque ficou agarrado num saco plástico? — diz Torben, que, ainda assim, insiste na competição na baía. — Se não for feita alguma coisa pela Baía de Guanabara agora, não vamos ver nada acontecer no tempo de nossas vidas.

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Ecobarcas começam trabalho de recolhimento de lixo da Baía de Guanabara

© Tânia Rêgo/ Agência Brasil

© Tânia Rêgo/ Agência Brasil

Da Agência Brasil
03/01/2014 – 12h55

Rio de Janeiro – A Secretaria Estadual do Ambiente começou hoje (3) a operar três embarcações especializadas em recolhimento de lixo, para retirar resíduos flutuantes da Baía de Guanabara. Nas próximas semanas, uma base de operação será instalada no Clube Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, na zona norte, e outra na Escola Naval, na região central do Rio. Ao todo, dez ecobarcos foram contratados para limpar a Baía.

Os resíduos recolhidos serão depositados em contêineres da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb), instalados na Marina da Glória, e encaminhados para indústrias de reciclagem. A iniciativa é financiada pelo Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam) e está orçada em R$ 3 milhões. A ação integra o projeto Baía Sem Lixo 2016, uma das 12 ações do plano Guanabara Limpa.

O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, informou que foram recolhidos na manhã desta sexta-feira resíduos sólidos variados, como bancos, assentos de vaso sanitário e grandes galhos de árvore.

“Hoje a gente pegou a tampa de uma latrina aqui e um galho enorme de uma árvore. Não é só a questão da poluição, é a questão do risco de acidentes com as embarcações. Porque esses grandes resíduos podem quebrar hélices de barcos e causar acidentes”, disse o secretário.

Ainda segundo Minc, além da coleta de lixo flutuante, a campanha visa também à conscientização dos donos e usuários de barcos. “Estamos aqui com o apoio da Marina da Glória. Já tem uma orientação para uma campanha de conscientização dos proprietários de barcos, para coletarem também o lixo flutuante, para tomarem conta dos lixos dos próprios barcos”.

O projeto Baía Sem Lixo 2016 prevê ainda, para fevereiro, o início da construção de oito ecobarreiras às margens da Baía de Guanabara. Atualmente, dez ecobarreiras estão espalhadas pelo estado. Elas recolhem, em média, 15 toneladas de lixo por mês. As ecobarreiras são estruturas feitas de materiais reciclados instaladas próximas à foz de rios para o recolhimento de resíduos sólidos.

O plano Guanabara Limpa espera alcançar o saneamento de 80% da Baía de Guanabara até 2016, quando vai sediar competição de barco a velas durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

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Edição: Denise Griesinger

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Dez ecobarcos vão retirar lixo flutuante da baía até 2016

Projeto custará R$ 3,1 milhões só no ano que vem

Foto: Rodrigo Thome/2olhares.com

Foto: Rodrigo Thome/2olhares.com

Emanuel Alencar
Jornal O Globo
16/11/13 – 5h00

RIO – O governo do estado está licitando a contratação de dez ecobarcos que vão coletar o lixo flutuante da Baía de Guanabara até 2016. O investimento estimado é de R$ 3,13 milhões somente no ano que vem, com recursos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam). Conforme noticiou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, será escolhida a empresa que apresentar a proposta com menor preço.

A Baía de Guanabara, que recebe diariamente em média 100 toneladas de lixo flutuante, será palco de competições de vela durante as Olimpíadas. O material que chega ao ecossistema é levado pelos rios que cortam a Região Metropolitana do Rio, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Atualmente, o órgão possui somente um barco de fiscalização para reprimir crimes ambientais na Baía.

— A expectativa é que os barcos iniciem a operação já no verão do ano que vem. Estamos estudando alternativas para os pontos de escoamento dos resíduos. A ideia é que o catador já separe o material reciclável no barco. Há, de fato, reclamação de velejadores com a quantidade de lixo flutuante, embora a situação tenha melhorado com as ecobarreiras. Hoje, são dez no entorno da Baía — diz Gelson Serva, coordenador executivo do Programa de Saneamento da Baía de Guanabara (Psam) da Secretaria estadual do Ambiente.

Serva explica que a secretaria optou por não fazer o contrato inicial por prazo de três anos, por questão de prudência. Assim, em 2014, será feita uma avaliação do programa. O governo do estado também deve licitar, ainda este ano, a reforma das ecobarreiras e a construção de outras oito: duas em Niterói, duas em São Gonçalo, duas em Duque de Caxias e duas na capital.

Um site sobre despoluição

A Secretaria do Ambiente já colocou no ar o site Guanabara Limpa, onde é possível acompanhar as ações do governo que visam à despoluição da Baía de Guanabara, um dos mais importantes cartões-postais da cidade. No site, no entanto, ainda não é possível companhar o andamento das obras em tempo real, uma promessa recente do secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc. O monitoramento da qualidade das águas da Baía também não está disponível.

A iniciativa de contratação de barcos para coletar lixo na Baía de Guanabara não é nova. Há dez anos, a Secretaria municipal de Meio Ambiente anunciava o programa Eco Baía. Um barco e dois botes de alumínio faziam a limpeza dos canais do Fundão e do Cunha. O material era recolhido e levado para o Complexo do Maré, onde era separado e encaminhado para a indústria recicladora. O projeto acabou sendo abandonado.

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Os cata-lixos da Guanabara

Divulgação

Divulgação

Por Ancelmo Gois
O Globo

Este é o modelo das dez barcas que serão usadas para coletar lixo flutuante da Baía de Guanabara. A Secretaria estadual do Ambiente do governo Cabral licita, dia 28 agora, o serviço de operação delas, que custará em torno de R$ 3,5 milhões. Com isso, poderá dobrar a capacidade de coleta de lixo na baía, que hoje é de 15 toneladas por dia e já conta com a ajuda de dez ecobarreiras e catadores de cooperativas. Aliás, em dezembro, será licitada a compra de mais oito ecobarreiras. O secretário Carlos Minc está confiante de que, nos Jogos de 2016, a baía terá condições de receber as regatas, mas alerta: “A população também precisa fazer sua parte.” É que, segundo ele, nove milhões de pessoas ainda jogam lixo nos rios que desembocam nas águas da Guanabara. Na verdade, o Comitê Olímpico ainda duvida se a baía estará limpa nos Jogos. Vamos torcer, vamos cobrar

15.11.2013 | 12h50m
Ancelmo.com: blog do colunista do jornal O Globo

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Palco de competições olímpicas em 2016, Baía de Guanabara sofre com acúmulo de lixo

Um dos cartões-postais cariocas recebe diariamente uma média de cem toneladas de resíduos flutuantes

Quem resolve? Lixo acumulado numa praia próxima à Cidade Universitária: a Baía de Guanabara, que será palco de competições náuticas nas Olimpíadas, recebe uma média de cem toneladas de lixo flutuante todos os dias Foto: Custódio Coimbra / O Globo

Quem resolve? Lixo acumulado numa praia próxima à Cidade Universitária: a Baía de Guanabara, que será palco de competições náuticas nas Olimpíadas, recebe uma média de cem toneladas de lixo flutuante todos os dias
Foto: Custódio Coimbra / O Globo

EMANUEL ALENCAR

RIO – A cena, de tão cotidiana, já não causa mais estranheza a Isabel Swan. Ao botar o barco nas águas da Baía de Guanabara, a velejadora precisa se desvencilhar de sacos plásticos, tampinhas de refrigerantes, latas, palitos de sorvete… Um dos cartões-postais cariocas recebe diariamente uma média de cem toneladas de lixo flutuante, carregado pelos rios que cortam a Região Metropolitana do Rio, segundo estimativa do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Na ausência de coleta domiciliar adequada e com medidas paliativas que avançam a passos de formiga, a “boca banguela” cantada por Caetano Veloso sofre, a três anos dos Jogos Olímpicos.

— Treino diariamente na baía desviando de todo tipo de lixo flutuante. Em agosto vou receber atletas da Nova Zelândia aqui no Iate Clube (em Niterói). Estou envergonhada. O panorama não tem mudado nos últimos anos. Algo precisa ser feito com urgência. Temos que torcer para não chover ou bater um vento sul (condições em que o lixo se espalha mais facilmente) durante os Jogos Olímpicos — critica a velejadora, medalha de bronze em Pequim, há cinco anos.

Se cumprir a meta de despoluir 80% das águas da Baía de Guanabara até 2016 — um dos compromissos olímpicos — parece a cada dia uma tarefa menos exequível, os esforços do poder público se voltam para medidas paliativas. A principal delas são as ecobarreiras, obstáculos que visam a capturar o lixo flutuante. Atualmente, são 11 instaladas na foz dos rios que desembocam na baía. Em 2012, as ecobarreiras capturaram 4.246 toneladas de detritos, apenas 9,9% a menos do coletado no ano anterior (4.714 toneladas). Nos últimos dois anos, foram retirados desses rios 2.878 pneus — uma média de quatro por dia.

— As ecobarreiras, de fato, não têm eficiência muito grande. Inclusive são projetadas para que se rompam em caso de chuvas fortes, para evitar inundações — diz a presidente do Inea, Marilene Ramos, acrescentando que, sem coleta de lixo adequada nos municípios, será impossível chegar a uma solução definitiva.

Outra iniciativa pensada para o curto prazo é a instalação de Unidades de Tratamento de Rios (UTRs). A primeira delas (que beneficiaria a Baía de Guanabara), a ser instalada no Rio Irajá, ainda não saiu do papel. Custará R$ 40 milhões aos cofres da Petrobras — incluindo manutenção por dez anos —, como medida de compensação ambiental da Refinaria Duque de Caxias. A lógica das UTRs é tratar o esgoto já no leito dos rios, antes de a carga orgânica chegar à baía. A expectativa é que a unidade do Irajá trate 12% das fontes de poluição que chegam ao mar.

O prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso, afirma que muitos caminhões de recolhimento de lixo são impedidos de entrar nas favelas dominadas pelo tráfico, aumentando o problema:

— Vamos tirar três mil casas das margens do Rio Sarapuí, com o programa Minha Casa Minha Vida. Essa questão do lixo está diretamente ligada à segurança pública. Volta e meia, as empresas de coleta são impedidas de entrar nas comunidades pelos traficantes.

Foto: Custódio Coimbra / O Globo

Foto: Custódio Coimbra / O Globo

Nas barcas, danos de R$ 2,3 milhões por ano

O lixo flutuante causa transtornos também ao transporte hidroviário. De acordo com a concessionária CCR Barcas, os danos provocados pelos resíduos implicam gastos anuais de R$ 2,3 milhões com limpeza, equipes de mergulho, substituição de filtros, pintura, energia e manutenção. Por causa do problema, em 2012, as barcas foram levadas 215 vezes ao estaleiro para serem consertadas — o número corresponde a 25% do total de reparos. O lixo afeta principalmente o sistema de refrigeração dos motores das embarcações.

— O volume pós-chuva é imensurável. Há cada vez mais lixo acumulado. Além de material orgânico, encontramos pedaços de geladeiras, redes de pesca, troncos de bananeiras, partes de sofás, velocípedes quebrados… — enumera o gestor de Operações da CCR Barcas, Jorge Castro.

E se filho feio não tem pai, como diz o ditado, há muito material boiando por aí sem que um responsável se apresente. As praias da Ilha do Catalão (no Fundão), área vizinha à Faculdade de Educação Física da UFRJ, mais parecem um lixão a céu aberto. Dentro do Fundão, a responsabilidade é da universidade. Mas, se o lixo chegar a uma praia da Ilha do Governador, por exemplo, a Comlurb recolhe, explica a companhia. A universidade informou que faz mutirões esporádicos, mas que as marés e as chuvas acabam trazendo resíduos de fora da Cidade Universitária. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em agosto de 2010, estabelece que, no caso das embalagens, quem pôs o material no mercado deve se responsabilizar por sua destinação adequada.

Na avaliação da promotora estadual de Justiça Rosani Cunha, pouco se avançou nos últimos anos na despoluição da Baía de Guanabara:

— Movemos uma ação (contra o estado) em 2007. O governo sempre diz que está fazendo obras. É lastimável. Surpreendentemente, o juiz (Ricardo Starling Barcellos, da 13ª Vara de Fazenda Pública) entendeu que o governo está agindo. Recorremos, e o caso agora está no TJ. A efetividade das ações de despoluição, a olho nu, é zero.

O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, pondera que a meta olímpica de despoluição exigirá esforços conjuntos, mas será cumprida:

— Lixo é do cidadão e das prefeituras. Mas não estamos de braços cruzados. Investimos R$ 6 milhões por ano em educação ambiental. E fechamos todos os lixões no entorno da baía.

O Comitê Rio 2016 diz ter “plena confiança” de que a Baía de Guanabara estará em perfeitas condições para a realização dos Jogos.

Presidente do Inea, Marilene Ramos, diz que prefeituras são as maiores culpadas pelo acúmulo de lixo na Baía de Guanabara:

Em 2008, o ambientalista Elmo Amador (falecido em 2010), em entrevista ao GLOBO, estimou em 80 toneladas por dia o volume médio de lixo despejado pelos rios que desembocam na Baía de Guanabara. Dá para fazer uma projeção atual?

Estimo que tenha havido um crescimento de 30% de lá para cá (ou seja, seriam cerca de cem toneladas por dia atualmente). A principal culpa é do precário serviço de coleta que as prefeituras prestam. Só dos rios Iguaçu, Botas e Sarapuí, na Baixada, já tiramos cinco milhões de metros cúbicos de lixo e lama.

Quantas ecobarreiras já foram instaladas e beneficiam diretamente a Baía de Guanabara? Elas funcionam?

Somente em rios que deságuam na Baía de Guanabara, temos 11 ecobarreiras. São um paliativo, não há uma eficiência muito grande. Durante chuvas torrenciais, elas arrebentam. As ecobarreiras são um paliativo. Não há uma eficiência muito grande. Estamos trocando a cooperativa de catadores da ecobarreira do Rio Meriti, porque volta e meia dá problema. O custo operacional é da Associação de Supermercados.

Qual a previsão para o funcionamento da Unidade de Tratamento do Rio (UTR) Irajá?

Fica pronta no fim do ano e está sendo bancada pela Petrobras. Se a gente conseguir implementar UTRs, já teremos uma situação bem mais confortável para 2016. Na Baía de Guanabara, hoje, dos 12 pontos de monitoramento, começamos a ter melhorias em dois: nas proximidades da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) Alegria (no Caju) e na ETE Icaraí.

GALERIA Baía agônica: lixo flutuante na Guanabara
VÍDEO O lixo flutuante na Baía de Guanabara

28/04/13
Jornal O Globo


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