O que a UE pode fazer para impedir o lixo marinho – Novo estudo já está pronto

© Trashed Film

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Seas At Risk
Bruxelas, 11 de setembro de 2013
Traduzido por Natalie Andreoli, Global Garbage Brasil

Não há nenhuma maneira fácil de resolver o problema do lixo marinho: ele é complicado e tem muitas causas, impactos e insumos. Como uma alta porcentagem do lixo marinho vem de fontes terrestres, a legislação da União Europeia (UE) é, possivelmente, a melhor maneira de resolver o problema e buscar soluções.

Com o intuito de fornecer alguma orientação concreta sobre o potencial para a legislação existente da UE enfrentar a multiplicidade de fontes terrestres de itens de lixo marinho, a Seas at Risk (“Mares em Risco”, em português) contratou um estudo do Instituto para a Política Ambiental Europeia (IEEP – Institute for European Environmental Policy). Sua missão era delinear quais peças existentes na legislação da UE poderiam ser alteradas para garantir uma queda significativa no lixo marinho e se uma nova legislação poderia ser necessária para preencher as lacunas na regulamentação existente.

O estudo do IEEP “Como melhorar a legislação da UE para combater o lixo marinho” fornece um excelente panorama da legislação da UE que poderia ter um impacto na quantidade de resíduos no ambiente marinho. Seis instrumentos de política em particular são identificados como tendo um nível potencial alto de impacto: a Diretiva-Quadro Estratégia Marinha (MSFD – Marine Strategy Framework Directive), a Diretiva-Quadro de Resíduos, a Diretiva-Quadro de Embalagens e Resíduos de Embalagens, a Regulamentação sobre Cosméticos e o Fundo de Assuntos Marítimos e de Pesca Europeu (o instrumento de financiamento da Política Comum de Pesca). Isso  tanto porque eles são relevantes para uma grande variedade de itens de lixo marinho e fontes, ou podem ter um impacto dramático em termos de redução de um tipo importante de lixo.

A principal conclusão do estudo é que o quadro básico para a resolução deste problema ambiental está estabelecido. No entanto, várias deficiências na legislação em vigor foram identificadas, sendo que a mais importante foi a necessidade de uma maior ambição nos requisitos e metas atuais.

Por exemplo, se a Diretiva sobre Cosméticos fosse para proibir o uso de microplásticos em produtos de higiene, isso iria reduzir muito a entrada deste tipo prejudicial de lixo marinho. No entanto, uma revisão completa do escopo e foco da Diretiva seria necessária para introduzir tal proibição.

Vários dos instrumentos jurídicos analisados ​​poderiam ter um impacto significativo sobre a gestão de lixo marinho, mas não mencionam o conceito de lixo de modo algum. O estudo recomenda que o conceito de lixo seja definido e incluído sistematicamente na Diretiva-Quadro de Resíduos, de Embalagens e de Resíduos de Embalagens. Outra maneira de tornar a legislação da UE mais eficaz em acrescentar o lixo marinho seria incluir uma referência para o descritor de lixo marinho da MSFD. O estudo também sinaliza uma lacuna de implementação preocupante. Não importa quão profundo o conjunto de legislação para enfrentar o lixo marinho seja, sem a plena implementação e aplicação pelos Estados-Membro, ele pode não ter impacto sobre o problema.

O estudo chega em um momento crucial na luta para combater o lixo marinho, com a Comissão Europeia atualmente focada em uma ampla revisão da legislação e das metas para resíduos na UE. O 7º Plano de Ação Ambiental recentemente adotado prevê uma meta de redução de lixo marinho para toda a UE, com uma consulta pública sobre isto, que deve ocorrer em breve. Além disso, uma grande conferência está prevista para 30 de setembro, em Bruxelas, para apresentar o resultado da consulta pública sobre o Livro Verde (Green Paper) sobre os resíduos plásticos.

Enquanto isso, os Estados-Membros estão ocupados desenvolvendo seus planos nacionais de prevenção de resíduos – exigido pela Diretiva-Quadro de Resíduos – e estão reunindo, no contexto da MSFD, programas de medidas para reduzir o lixo marinho.

A Seas at Risk pretende utilizar os resultados do estudo para garantir que a prevenção do lixo marinho esteja no topo da agenda da UE.

Newman, S, Watkins, E and Farmer, A (2013) How to improve EU legislation to tackle marine litter. Institute for European Environmental Policy, London

Instalações de Recepção Portuárias – como prevenir o lixo marinho gerado por navios

© Plastic Oceans Foundation

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Seas At Risk
Bruxelas, 10 de setembro de 2013
Traduzido por Mariana Coutinho Hennemann, Global Garbage Brasil

A Diretiva sobre Instalações de Recepção Portuárias (Port Reception Facilities (PRF) Directive) deverá ser revisada em 2014, e a ONG “Seas at Risk” (SAR) (“Mares em Risco”, em português) tem trabalhado com o IEEP (Institute for European Environmental Policy – Instituto para a Política Ambiental Europeia) para identificar como a Diretiva pode ser melhorada para efetivamente combater uma fonte significativa de lixo marinho.

Dar maior responsabilidade para as Autoridades Portuárias em relação ao gerenciamento de resíduos e introduzir uma abordagem “sem taxa especial” estão entre as principais recomendações.

Estima-se que até 20% do lixo marinho vem de navios, embora os números possam variar por região; no Mar do Norte, por exemplo, essa percentagem é muito maior, pois é uma das mais movimentadas rotas de transporte marítimo do mundo. A Diretiva PRF foi desenvolvida para regulamentar o descarte de resíduos de navios nos portos e para transpor para a legislação da União Europeia elementos específicos da Convenção da MARPOL, a qual objetiva regulamentar o descarte de poluentes no mar. Contudo, devido a uma falta de fiscalização enquanto os navios estão no mar, e à ampla variedade de interpretações da Diretiva PRF pelos portos, há uma confusão geral na Europa e frequentemente os resíduos são jogados para fora das embarcações pelos tripulantes para simplificar.

O estudo “Reduzindo o lixo marinho gerado por navios – recomendações para aprimorar a Diretiva sobre Instalações de Recepção Portuárias na União Europeia” identifica furos na legislação que, se fechados, poderiam assegurar a entrega fácil e efetiva de resíduos, de forma a reduzir as chances de despejo ilegal. A principal recomendação é de que as Autoridades Portuárias deveriam tomar maior responsabilidade pela entrega dos resíduos.

Atualmente, o descarte de resíduos é controlado por operadores privados, com as Autoridades Portuárias tendo pouca contribuição. Um gerenciamento do descarte de resíduos centralizado permitiria que a entrega de resíduos dos navios fosse monitorada, asseguraria uma melhor coleta de dados para a Comissão Europeia, fazendo a Diretiva PRF mais facilmente aplicável.

O relatório também recomenda a implementação de uma abordagem de “uma parada”, onde todos os tipos de resíduos são manejados pelo mesmo operador, com a Autoridade Portuária encarregada da notificação, emissão de recibo e manuseio do dinheiro.

Outra recomendação vital é a abordagem “sem taxas especiais”, onde todos os navios no porto devem pagar as mesmas taxas de manejo de resíduos, independentemente de quando e quanto eles utilizam as instalações. Isso elimina qualquer incentivo para os navios descartarem lixo no mar, e também irá manter os custos e a carga administrativa em níveis mínimos.

Junto com outras organizações membro, a SAR irá incentivar uma revisão completa da legislação, com alterações legalmente vinculativas para assegurar uniformidade dentro da União Europeia.

Øhlenschlæger, JP, Newman, S and Farmer, A. (2013). Reducing ship generated marine litter – Recommendations to improve the EU Port Reception Facilities Directive. Report produced for Seas At Risk. Institute for European Environmental Policy, London.